Era noite.
Pedro, sentado, naquele bar,
mais uma vez levanta o copo.
Nele vê refletida a imagem de Maria.
Pele macia, morena.
Olhar trigueiro e lábios carmesim.
Curvas suaves, infinitas.
Um arrepio lhe corta a alma.
Inverno.
Está só.
Ele, o Pedro!
2. céu
Luz, muita luz.
Primavera.
Manuel ama Maria.
Maria ama Manuel.
Tão simples, assim é o amor.
Tão intrigante assim, só a vida.
Que bom!
Esqueceu-se de Pedro.
Ela se sente plenamente Maria.
3. mar
Uma brisa ardente toca o seu rosto
e esvoaça, suave, seus cabelos.
Nos seus olhos, o mar verde esmeralda.
Ondas furiosas esculpem,
em constante eterno, rochas.
Gaivotas deslizam, majestosas, infinito.
Maria toca, com carinho, a sinuosa curva.
Uma onda serena de satisfação e prazer
faz tremer a alma.
Sorri, encanto. Está prenhe!
Fruto do amor, gerado no amor.
Verde e azul, mar e céu se confundem.
Calor e liberdade se abraçam.
Tempo bom.
Início de verão.
4. terra
Gabriel repousa em seus braços.
Anúncio e mensagem, teofania.
É outono.
Suavemente, ela o aconchega e embala;
de seus lábios brotam antigas canções.
Calma e acalma.
Plenitude.
Ah, aquela noite de inverno, primeira de muitas.
Lençóis manchados, revoltos.
Suor, sêmen, semente, amor e paixão.
Estremece.
Adormece tranquilo em seu regaço,
o bendito fruto de Maria.
5. exílio sem fim
Primavera.
Manuel ama Maria.
Maria ama Manuel.
Tão simples, assim é o amor.
Tão intrigante assim, só a vida.
Que bom!
Esqueceu-se de Pedro.
Ela se sente plenamente Maria.
3. mar
Uma brisa ardente toca o seu rosto
e esvoaça, suave, seus cabelos.
Nos seus olhos, o mar verde esmeralda.
Ondas furiosas esculpem,
em constante eterno, rochas.
Gaivotas deslizam, majestosas, infinito.
Maria toca, com carinho, a sinuosa curva.
Uma onda serena de satisfação e prazer
faz tremer a alma.
Sorri, encanto. Está prenhe!
Fruto do amor, gerado no amor.
Verde e azul, mar e céu se confundem.
Calor e liberdade se abraçam.
Tempo bom.
Início de verão.
4. terra
Gabriel repousa em seus braços.
Anúncio e mensagem, teofania.
É outono.
Suavemente, ela o aconchega e embala;
de seus lábios brotam antigas canções.
Calma e acalma.
Plenitude.
Ah, aquela noite de inverno, primeira de muitas.
Lençóis manchados, revoltos.
Suor, sêmen, semente, amor e paixão.
Estremece.
Adormece tranquilo em seu regaço,
o bendito fruto de Maria.
5. exílio sem fim
Maria, (sua puta)
Por quê?
Eu bem que devia ter ouvido os conselhos a seu respeito: “Olha de onde ela vem. Ela não tem classe. É bonita sim, mas não vale nada. Tens tanta grana, por que vais te amarrar a esta mulher? Case-se com uma mulher da tua classe social. Fode ela, depois larga" e outras coisas mais. Mas eu, perdidamente apaixonado, não dei a mínima às advertências. Ao invés, resolvi arriscar tudo em você. Deixei-me envolver. Você era tão linda. Parecia tão inocente.
Então, eu dei o que lhe podia dar de melhor: casa, riquezas, um sobrenome, amigos importantes. Fui o primeiro homem na sua vida. Ensinei a você a arte de amar. É você aprendeu bem depressa, né? Aliás, foi esta sua tendência à safadeza que começou a me incomodar.
Onde você anda?
Graças a mim, você pode conhecer um mundo novo. Classe, cultura, viagens... Seu mundo foi ampliado para além do Tietê. Lembra aquela viagem que fizemos à Europa? Você queria conhecer ‘Bagnoreggio’, só porque foi o lugar onde começou a novela Esperança. Coisa de mulher, mas eu levei você lá. Eu cheio de orgulho, lhe mostrei Veneza, Florença, Roma e Nápoles. Muitos lhe admiravam na sua beleza tropical. Fiz até algumas cenas de ciúmes, lembra? Depois fomos a Paris. Não sei porque você não gostou de lá. Achou que a cidade era muito cinzenta. Gente muito fria. Como você se divertiu em Santiago de Compostella, Porto e Lisboa. Fomos a tantos lugares... Bem diferentes da Vila dos Remédios.
Creio que foi nestas andanças que você iniciou o me enganar. Só não ia prá cama com outro porque eu marcava cerrado. Eu sei. Você não me traia com o corpo, mas com certeza era infiel nos pensamentos. Será que você era sincera quando fazíamos amor? Nos útimos tempos andava tão fria, distante... Deve ser porque tinha outra pessoa na mente. Não, não pode ser. Eu era o melhor que você poderia ter. Ótimo amante, melhor que qualquer um.
Eu bem que devia ter ouvido os conselhos a seu respeito: “Olha de onde ela vem. Ela não tem classe. É bonita sim, mas não vale nada. Tens tanta grana, por que vais te amarrar a esta mulher? Case-se com uma mulher da tua classe social. Fode ela, depois larga" e outras coisas mais. Mas eu, perdidamente apaixonado, não dei a mínima às advertências. Ao invés, resolvi arriscar tudo em você. Deixei-me envolver. Você era tão linda. Parecia tão inocente.
Então, eu dei o que lhe podia dar de melhor: casa, riquezas, um sobrenome, amigos importantes. Fui o primeiro homem na sua vida. Ensinei a você a arte de amar. É você aprendeu bem depressa, né? Aliás, foi esta sua tendência à safadeza que começou a me incomodar.
Onde você anda?
Graças a mim, você pode conhecer um mundo novo. Classe, cultura, viagens... Seu mundo foi ampliado para além do Tietê. Lembra aquela viagem que fizemos à Europa? Você queria conhecer ‘Bagnoreggio’, só porque foi o lugar onde começou a novela Esperança. Coisa de mulher, mas eu levei você lá. Eu cheio de orgulho, lhe mostrei Veneza, Florença, Roma e Nápoles. Muitos lhe admiravam na sua beleza tropical. Fiz até algumas cenas de ciúmes, lembra? Depois fomos a Paris. Não sei porque você não gostou de lá. Achou que a cidade era muito cinzenta. Gente muito fria. Como você se divertiu em Santiago de Compostella, Porto e Lisboa. Fomos a tantos lugares... Bem diferentes da Vila dos Remédios.
Creio que foi nestas andanças que você iniciou o me enganar. Só não ia prá cama com outro porque eu marcava cerrado. Eu sei. Você não me traia com o corpo, mas com certeza era infiel nos pensamentos. Será que você era sincera quando fazíamos amor? Nos útimos tempos andava tão fria, distante... Deve ser porque tinha outra pessoa na mente. Não, não pode ser. Eu era o melhor que você poderia ter. Ótimo amante, melhor que qualquer um.
Onde eu andei?
Tá certo. Eu era um pouco ciumento e, algumas vezes, exagerei e não pude controlar minhas reações. Mas era porque eu gostava muito, mas muito mesmo, de você. Pode não acreditar, mas eu gostava mesmo! Como poderia então deixar você livre e solta?
Eu tinha os compromissos sociais. Era alguém de muito trabalho. Você sabe, um homem como eu é sempre muito assediado. Por mulheres lindas e interessantes. Elas eram bem fáceis. Um macho não pode dar moleza. Mas o meu coração sempre foi seu. Pode ter certeza disso. Eu não queria perder você por nada neste mundo.
Você era muito bonita, marcava presença. Muitos homens queriam você. Pensa que eu não sei? Você era uma feiticeira, capaz de seduzir com o olhar. Enlouquecia tantos com sua sensualidade. E eu me sentia orgulhoso e poderoso por você ser minha.
Por isso, em alguns momentos, fui violento. Peço-lhe perdão, mas eu não podia controlar este sentimento. Sei que uma ou duas vezes exagerei. Era amor, pode crer. Sim, era amor. Eu não lhe queria fazer mal. É por isso que, arrependido, reparei meus acessos de raiva. O Chagas sempre lhe cuidou bem, nestes momentos. Ele é um médico muito competente, discreto e amigo. Curou as feridas, não deixou marcas.
Onde você está?
Sabe Maria, não imagina você o vazio que senti quando voltei do Rio de Janeiro e não lhe encontrei em minha casa. Recordo bem. Um dia frio de fim de abril. Anúncio de um inverno rigoso, previam os meterologistas. Pensei que estaria me esperando, pronta para me aquecer. Enganei-me, o quarto estava vazio.
Quando a Vitória me disse que você tinha partido, eu não acreditei. Só podia ser um mal entendido. Procurei suas coisas: roupas, jóias e perfumes. Tudo estava lá, no lugar de sempre. Até mesmo as nossas fotografias. Imaginei, mesmo proibida, teria ido passar um tempo em sua casa. Mas tudo bem, estava disposto a lhe perdoar. Esperei dias e dias por um sinal seu e nada. Fui até na vila! Foi então que fiquei sabendo que seus pais já estavam mortos. Você? Ninguém sabia.
Vou lhe confessar. Desesperado, coloquei uma pessoa para descobrir o seu paradeiro. Mas... Nenhuma pista. Nada. Você está viva? Queria tanto receber notícias suas. Não sei. Um simples telefonema, um bilhete, um recado apenas. Sei lá.
Onde eu estou?
Não consego mais dormir direito. Perdi o interesse pelos amigos, pelas festas e até mesmo pelo trabalho. E você sabe o quanto estas coisas eram tão importantes para mim. A princípio, comecei a ficar mais em casa. Meus parentes e amigos estranharam, demonstraram preocupação. Falaram que isto iria passar, que já estava previsto. Falaram até da Laura e outras coisas mais. Mas isto não me deu sossego, parece até que ficou mais difícil levar adiante a vida. O Chagas, sempre ele, tão prestativo, me receitou uns remédios, mas não surtiram efeito.
É como se dentro de mim se criou um vazio e me penetrou um espinho que me rasga a carne. Estou mais morto que vivo. No fim do dia, eu me sinto mais angustiado. Tentando aliviar, pego o carro e saio sem destino. É tudo tão escuro! Parece que as luzes da cidade estão sem brilho. Ando quilômetros e quilômetros e depois volto prá casa.
Ás vezes, eu vou até o bar. Sento-me perto da janela, tomo algo, tentando anestesiar meu sofrimento, e fico esperando as horas passarem. Vê o rumo que tomou a minha vida. Tudo por sua causa. E agora, o que eu faço? Já não tenho tantos amigos, o dinheiro pouco me importa, a casa ficou muito grande. Acho que vou enlouquecer.
Onde tu estás?
Minha cara. Estou te escrevendo, é só o eu que posso fazer. Quero desabafar, mostrar a minha dor, o meu desespero. Perdoe-me se fui grosseiro. Quem sabe um anjo não leva esta carta para ti. Quem sabe um milagre não aconteça e tu voltes para mim. Tudo então vai ser muito diferente, podes crer. Serei mais carinhoso, não vou mais te fazer mal algum. Vou esquecer tudo o que aconteceu. Poderemos então, quem sabe, ter o filho que tu tanto querias.
Tá certo. Eu era um pouco ciumento e, algumas vezes, exagerei e não pude controlar minhas reações. Mas era porque eu gostava muito, mas muito mesmo, de você. Pode não acreditar, mas eu gostava mesmo! Como poderia então deixar você livre e solta?
Eu tinha os compromissos sociais. Era alguém de muito trabalho. Você sabe, um homem como eu é sempre muito assediado. Por mulheres lindas e interessantes. Elas eram bem fáceis. Um macho não pode dar moleza. Mas o meu coração sempre foi seu. Pode ter certeza disso. Eu não queria perder você por nada neste mundo.
Você era muito bonita, marcava presença. Muitos homens queriam você. Pensa que eu não sei? Você era uma feiticeira, capaz de seduzir com o olhar. Enlouquecia tantos com sua sensualidade. E eu me sentia orgulhoso e poderoso por você ser minha.
Por isso, em alguns momentos, fui violento. Peço-lhe perdão, mas eu não podia controlar este sentimento. Sei que uma ou duas vezes exagerei. Era amor, pode crer. Sim, era amor. Eu não lhe queria fazer mal. É por isso que, arrependido, reparei meus acessos de raiva. O Chagas sempre lhe cuidou bem, nestes momentos. Ele é um médico muito competente, discreto e amigo. Curou as feridas, não deixou marcas.
Onde você está?
Sabe Maria, não imagina você o vazio que senti quando voltei do Rio de Janeiro e não lhe encontrei em minha casa. Recordo bem. Um dia frio de fim de abril. Anúncio de um inverno rigoso, previam os meterologistas. Pensei que estaria me esperando, pronta para me aquecer. Enganei-me, o quarto estava vazio.
Quando a Vitória me disse que você tinha partido, eu não acreditei. Só podia ser um mal entendido. Procurei suas coisas: roupas, jóias e perfumes. Tudo estava lá, no lugar de sempre. Até mesmo as nossas fotografias. Imaginei, mesmo proibida, teria ido passar um tempo em sua casa. Mas tudo bem, estava disposto a lhe perdoar. Esperei dias e dias por um sinal seu e nada. Fui até na vila! Foi então que fiquei sabendo que seus pais já estavam mortos. Você? Ninguém sabia.
Vou lhe confessar. Desesperado, coloquei uma pessoa para descobrir o seu paradeiro. Mas... Nenhuma pista. Nada. Você está viva? Queria tanto receber notícias suas. Não sei. Um simples telefonema, um bilhete, um recado apenas. Sei lá.
Onde eu estou?
Não consego mais dormir direito. Perdi o interesse pelos amigos, pelas festas e até mesmo pelo trabalho. E você sabe o quanto estas coisas eram tão importantes para mim. A princípio, comecei a ficar mais em casa. Meus parentes e amigos estranharam, demonstraram preocupação. Falaram que isto iria passar, que já estava previsto. Falaram até da Laura e outras coisas mais. Mas isto não me deu sossego, parece até que ficou mais difícil levar adiante a vida. O Chagas, sempre ele, tão prestativo, me receitou uns remédios, mas não surtiram efeito.
É como se dentro de mim se criou um vazio e me penetrou um espinho que me rasga a carne. Estou mais morto que vivo. No fim do dia, eu me sinto mais angustiado. Tentando aliviar, pego o carro e saio sem destino. É tudo tão escuro! Parece que as luzes da cidade estão sem brilho. Ando quilômetros e quilômetros e depois volto prá casa.
Ás vezes, eu vou até o bar. Sento-me perto da janela, tomo algo, tentando anestesiar meu sofrimento, e fico esperando as horas passarem. Vê o rumo que tomou a minha vida. Tudo por sua causa. E agora, o que eu faço? Já não tenho tantos amigos, o dinheiro pouco me importa, a casa ficou muito grande. Acho que vou enlouquecer.
Onde tu estás?
Minha cara. Estou te escrevendo, é só o eu que posso fazer. Quero desabafar, mostrar a minha dor, o meu desespero. Perdoe-me se fui grosseiro. Quem sabe um anjo não leva esta carta para ti. Quem sabe um milagre não aconteça e tu voltes para mim. Tudo então vai ser muito diferente, podes crer. Serei mais carinhoso, não vou mais te fazer mal algum. Vou esquecer tudo o que aconteceu. Poderemos então, quem sabe, ter o filho que tu tanto querias.
Por que não?
Pedro Ricardo Pinto Carvalho