sem palavras

A cicatriz da alma, testemunha a travessia.
Naquela noite, era o momento de dar-se o encontro.
Ao te ver, algo gritou em mim.
Quando me dei, estava sentado frente a ti e lancei-me no jogo da sedução.
Planejava momentos de trocas, sem envolvimento.
Ledo engano.
Vieram as viagens, as férias, o natal e as noites na praia.
"Amizade apenas", afirmava eu aos outros.
Envolvido, adiava aquelas três palavras.
Mas o tempo exige a paga dos apaixonados.
Com ele vieram as cobranças.
A princípio em gestos; depois em dizeres.
E eu sempre com inúmeras justificativas:
"É necessário manter nossa independência.
Somos homens".
Chegou então àquela outra noite.
Deixei-te em frente à tua casa, na calçada.
Pelo retrovisor, eu via, entre lágrimas,
tua imagem cada vez mais distante.
Eu sabia... Não era o carro que se afastava.
No outro dia, me levantei bem cedo.
Bati em tua porta e, em silêncio, saímos.
Levei-te ao aeroporto.
Longe de ti, finalmente elas foram ditas: eu te amo.
Tarde, eu me conheci.