primeira-feira
Houve um casório.
Como a maioria dos casamentos,
poucos na igreja, muitos na festa.
Emanuel, acompanhado de sua turma, também foi.
Maria, sua mãe, agitada como sempre.
De imediato, pensou: ela não perde uma.
Lá pelas tantas faltou bebida.
Maria: "não tem mais o que beber".
Ele só levanta os ombros, como a dizer não tenho nada com isso.
Maria deu as costas, confiante, com um sorrisinho enigmático.
Ela conhecia o filho. Era o seu eterno æl.
Quando criança, ele gostava de brincar de mágico.
Um dia, depois de ler uma passagem da bíblia,
resolvera transformar água em vinho.
Isto na festa de aniversário da Anael.
Colocou a capa, pronunciou as palavras mágicas
e, pronto, a água transformara-se em vinho.
Tá certo que o tang de uva, no fundo da jarra, ajudou.
Mas que ele deu um show, deu.
Não seria diferente.
Ela sabia.
Emanuel, a princípio contrariado,
todo filho fica assim quando a mãe interfere,
começou a remoer com seus botões.
Graças a Deus, vinho Sangue de Boi, ninguém merece.
Pegou uma panela, bem grande.
Depois uns limões, açúcar e gelo.
E também pinga. Sempre tem.
Para completar, sua viola.
Criou-se assim o céu e a terra.
Foi uma festa e tanto.
O casamento de Gabriel com Salomé, irmã de Azazel,
estava salvo.
Foi assim o primeiro dia.