prece de um solitário viajante

sinto-me na madrugada,
sedento do amanhecer
e, ao mesmo tempo,
que o sono me abrace.

passado ou futuro,
não sei ao certo.
só sei o ardor no peito
e a garganta seca.

haverá  redenção?
haverá salvação?
onde foi que eu,
abandonado de mim,
deixei o melhor,
a minha inocência?
as certezas de que cuidavas e velavas
do meu sono e destino?

agora, tão repleto de mim,
ciente das ciências das coisas,
resta-me as incertas noites.

volta, meu companheiro,
do pão e do vinho,
de juntos colocarmos nossas mãos no mesmo prato e
beijarmos sedentos e alegres o mesmo copo.

meu Senhor e meu Deus,
deixa-me novamente tocar
o teu lado e os teus pulsos.
tira-me este ciente saber,
dá-me novamente o incrédulo crer,
volte a caminhar comigo
num repetido deslizar
de uma conta de terço.