demônios

face informe de um rosto retorcido,
boca torta,
corpo alto, tensão.
deparo-me entre curioso e terrificado
o que fazes aí,
pulando mesas e cadeiras,
lançando-me, equilibrado, no corrimão,
sapatos de couro, impecáveis, brilhantes,
um no trilho, outro no espaço.
vão da escada,
ei-lo agora tendo que se lançar,
na esperança de encontrar o chão.
pouso final suave,
quase rompendo
a parede na oposta de o vidro fumê.
a bagunça formada.
éramos nós dois,
carne do meu sangue,
filha do meu pai
somamos agora multidão.
sinto-me obrigado a defender-te,
mesmo não sendo minha carne,
mãe dos meus sobrinhos,
mulher do leito do meu irmão.
entre gritos em desacordos
a multidão se expressa;
uns contras, outros não.
fora um jardim,
e as flores.
dentro, chão preto,
orquídeas brancas;
sala de leitura, literatura,
violada a harmonia;
fora, outros somam-se à multidão.
no meio, um freira de roupas azuis,
cabelos brancos, no andar mostrando o rumo.
acordo sufocado;
de ar,
de significados,
de paixão