sexta-feira
Pós travessia,
Anael, jeitosa, tocou Emanuel.
Mãos nos lábios, nariz e olhos.
Parou aí.
Avançou rosto, queixo e pescoço,
pomo de adão, proibido.
Sentiu espinhos rentes, a fazer .
Aspirou o perfume, cheiro dele, da noite.
Saboreou em tato e visão,
ouviu em olfato, intuição.
Suspirou geografia de corpo, alma.
Gestos amorosos, afetuosos, amigo.
Sentou-se.
Contou sua vida em ladainha curativa.
Amores vividos, visões sonhadas,
Esperas de felicidade. Enganações.
Narrou sem emoção, medo ou raiva,
a angústia, o temor, a aids.
Pediu então que dedilhasse a viola,
e envolvida no som da vida, flutuou.
Subiu píncaros,
desceu penhascos,
bebeu em fontes,
dormiu em prados verdes, floridos.
Amou o que vivera,
odiou o que devia.
desejou, viveria.
Brilhou assim os olhos de Anael.
Diamantes negros, estrelas reluziam.
Via láctea.
Estremeceu.
Sentiu-o calado, no canto escuro, Azazel.
Tão distante, fazendo-se perto,
o irmão de Salomé, assoprou fogo,
aqueceu noite e, mesmo sem costume,
seus lábios, no som da viola,
sussurrou em querer, prosas e poesias.
Emanuel, magia em tom sedutor, percebia.
Era muito bom.
Feliz, travesso, æl sorria.